Evangelho Dominical – 29º Domingo do Tempo Comum

Pe. Tulio Marcos Ribeiro Corrêa, SCJ

O Evangelho deste 29º Domingo do Tempo Comum nos coloca diante de um pedido peculiar feito por Tiago e João, filhos de Zebedeu: “Mestre, queremos que nos faças o que Te vamos pedir: concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda”. A resposta de Jesus a essa demanda revela a incompreensão dos dois discípulos sobre a verdadeira natureza do Reino de Deus e nos ensina lições sobre o serviço, o sacrifício e a autêntica grandeza no seguimento de Cristo.

Tiago e João, assim como muitos dos discípulos, ainda estão imersos numa visão política e triunfalista do Messias. Eles imaginam que o Reino de Jesus será um reino terreno, marcado pelo poder e pela glória humana. Por isso, desejam ocupar lugares de destaque ao lado de Jesus, como se o seguimento de Cristo lhes garantisse privilégios e honras mundanas. Essa visão errônea de grandeza demonstra o quanto ainda falta para que compreendam a verdadeira missão de Jesus.

O Cálice e o Batismo de Jesus

Diante dessa ambição, Jesus os confronta com uma pergunta desafiadora: “Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o batismo que Eu vou receber?”. Aqui, “beber o cálice” e “receber o batismo” têm um significado teológico. O cálice que Jesus menciona não é um símbolo de poder ou de vitória terrena, mas uma metáfora para o destino de sofrimento, entrega e morte que Ele vai enfrentar em Jerusalém. Participar desse cálice significa estar disposto a trilhar o caminho da cruz, do sacrifício, da doação total da vida.

O batismo, por sua vez, remete à imersão na Paixão e morte de Jesus. É um convite à identificação completa com o Cristo sofredor, à aceitação de uma vida marcada pelo serviço e pela entrega de si, até as últimas consequências. Jesus está, assim, propondo a Tiago e João que repensem suas expectativas: o seguimento de Cristo não é um caminho de glória terrena, mas de serviço e sacrifício.

Os discípulos, ainda sem entender plenamente o que Jesus está lhes pedindo, respondem prontamente: “Podemos”. Com paciência, Jesus lhes confirma que, de fato, eles beberão o cálice e receberão o batismo que Ele está prestes a enfrentar. Entretanto, esses momentos de participação na Paixão de Cristo só acontecerão no futuro, quando os discípulos tiverem amadurecido em sua fé e entrega ao Reino. O que Tiago e João ainda não compreendem é que a glória que Jesus lhes promete não tem nada a ver com o poder humano que eles sonham. A verdadeira glória consiste em participar do mistério pascal de Cristo, morrendo para si mesmos e vivendo para Deus e para os irmãos.

A Lógica do Serviço no Reino de Deus

A pretensão de Tiago e João acaba despertando a indignação dos outros discípulos, o que evidencia que todos ainda alimentam sonhos de grandeza e ambição. A rivalidade entre eles revela que não entenderam a essência do Reino de Deus. Jesus, então, aproveita a ocasião para reafirmar a lógica do Reino, que é diametralmente oposta à lógica do mundo. Ele recorda o modelo dos “governantes das nações”, que exercem o poder de maneira autoritária, dominando os povos pela força, buscando privilégios e honras.

No Reino de Deus, essa lógica de poder e dominação não tem lugar. O critério fundamental do Reino é o serviço. Jesus ensina que “quem quiser ser grande entre vós, seja aquele que vos serve; e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja o servo de todos”. A verdadeira grandeza no Reino de Deus não está no exercício do poder, mas na humildade, na simplicidade e na capacidade de servir os irmãos.

A comunidade cristã deve ser construída sobre essa lei do amor-serviço. Mesmo aqueles que são chamados a exercer a liderança na Igreja ou na comunidade devem fazê-lo com um espírito de serviço, sentindo-se sempre servidores de todos. A Igreja não pode ser uma instituição pautada por ambições de poder ou de domínio, mas uma comunidade de servos, comprometidos com a edificação de um mundo mais justo, fraterno e solidário, de acordo com os valores do Evangelho.

Jesus, o Servo por Excelência

Jesus oferece a Si mesmo como o modelo supremo dessa atitude de serviço. Ele é “o Filho do Homem que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por todos”. Toda a vida de Jesus foi uma oferta de amor, desde a encarnação até a cruz. Ele não buscou privilégios ou honras; pelo contrário, fez-Se servo de todos, especialmente dos mais pobres, marginalizados e sofredores. Na última ceia, lavando os pés dos discípulos, Jesus nos deixa o exemplo concreto de como devemos agir: o caminho do discipulado passa necessariamente pelo serviço humilde aos irmãos.

O “resgate” que Jesus oferece é a libertação de toda a humanidade das cadeias do pecado, da ambição desmedida e do egoísmo que escraviza. O preço desse resgate foi a própria vida de Jesus, entregue na cruz. Com Sua morte e ressurreição, Jesus inaugura uma nova ordem, a ordem do Reino, onde a lei fundamental é o amor que se faz serviço.

Neste 29º Domingo do Tempo Comum, somos chamados a rever nossas próprias expectativas e ambições no seguimento de Cristo. Como Tiago e João, muitas vezes podemos ser tentados a seguir Jesus em busca de recompensas, honras ou privilégios. No entanto, o Evangelho nos recorda que o verdadeiro discípulo é aquele que, como Cristo, está disposto a servir e a entregar a vida por amor aos irmãos. A grandeza no Reino de Deus não está no poder ou no prestígio, mas na capacidade de amar e servir com gratuidade. Que possamos aprender com Jesus, o Servo por excelência, a viver essa lógica do serviço em nossas vidas e comunidades.